quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Não há vagas.


Por Ferreira Gullar

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação do leite
da carne
do açúcar

do pão

O funcionario público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada

em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário

que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
" não há vagas "

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.



Este poema foi escrito na época da ditadura militar, rendendo ao Ferreira Gullar um delicado convite a cadeia.


Beijos e abraços :*
Natália Vieira Cesar

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