"Uma nova teoria Biologica" era o titulo do trabalho que Mustafá Mond acabava de ler. Ficou sentado algum tempo, as sobrancelhas franzidas meditativamente; depois tomou a pena e escreveu sobre a página de rosto: " a maneira pela qual o autor trata matematicamente a concepção de finalidade é nova e extremamente engenhosa, mas herética e, no que diz respeito à ordem social presente, perigosa e potencialmente subversiva. NÃO PUBLICAR." Sublinhou essas palavras. "O autor será mantido sob vigilancia especial. Sua transferencia para o posto de biologia marinha de Santa Helena poderá tornar-se necessaria." Uma lastima, pensou, enquanto assinava. Era um trabalho magistral. Mas se se começasse a admitir explicações de ordem finalística... bem, não se sabia qual poderia ser o resultado. Era o tipo de idéia que poderia facilmente descondicionar os espiritos menos estaveis das castas superiores - que poderia faze-los perder a fé felicidade como Soberano Bem, e levá-los a crer, ao invés disso, que o objetivo estava em alguma parte além e fora da esfera presente; que a finalidade da vida não era a manutenção do bem-estar, e sim uma certa intensificação, um certo refinamento da consciencia, uma ampliação do saber... O que, refletiu o Administrador, bem podia ser verdade. Mas inadmissível nas circinstancias presentes. Retomou a pena e, sob as palavras "NÃO PUBLICAR", riscou um segundo traço, mais espesso, mais preto do que o primeiro; depois suspirou. "Como seria divertido", pensou, "se não tivesse de pensar na felicidade!"
- Admiravel mundo novo, capitulo XII, Aldous Huxley, 1932
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