Tomando uma café já a muito frio, uma vontade sufocante de tragar um cigarro oprimido pela lei anti-fumo da grande São Paulo. Escrevendo em um guardanapo sujo de batom. Sentimentos empoeirados e a caneta falhando. Esmalte vermelho descascado e o licor de avelã pela metade. O fluido do zippo acabando, apenas uma luz falha do fogo que já acendeu. O couro gasto e as palavras vazias na carta que você me escreveu.
Meu celular toca, não, não é o celular desse tal de Lucas, feliz seja o Lucas procurado pela voz sedenta feminina do outro lado da linha. A ponta fina da caneta rasga o papel, fino e inapropriado para escrita, com a mão pesada escrevendo palavras raivosas e talvez tristes, com força, com pesar.
Lá fora, chove. Dentro, neva, e venta lentamente, a brisa do pesar. Acordes de jazz embalam as pessoas alheias a você, sorrisos, beijos, risadas e cafés quentes. Te enojam. O cheiro da amargura que exala dos seus cabelos negros e molhados encobre o cheiro de papel, café e de vida do lugar. A maquiagem borrada nos olhos e o tênis desbotado sob a mesa. O jeans a muito abandonou o azul original. Os dentes amarelados e a mente afogada. O mundo rodando ao lado oposto. O clichê despontando. Sofrimento é sempre o mesmo. Somos sempre todos os mesmos. O vazio, o álcool, o blues continua sempre o mesmo, a pele sedenta e os lábios frouxos. O eclipse e as manchetes velhas. A falta de sono. Tudo para nos mostrar o tamanha da nossa humanidade.
E a caneta deita.
nat.
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